Hit the world road

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Chove no Dubai....


De repente, enquanto jantávamos, começou a chover no Dubai. Sensação estranha. O Raul correu para a varanda para meter o nariz de fora (vivemos em bolhas climatizadas: carro, apartamento, reuniões em escritórios) e estava a pingar. Não é chuva, chuva, mas pronto, para aqui no minimo é tempestade! E ainda por cima, o céu está rasgado de luz com relâmpagos e trovões. E o ar cheirava quase a terra molhada...

E no mesmo instante, pensámos em Lisboa. Pensámos na familia, nos amigos, no frio que vai lá estar à nossa espera e descobrimos que esta segunda missão está a terminar. Vamos embora outra vez depois de amanhã. Outra sensação estranha. Mistura de suaudades (saudades suadas) com vontade de ficar cá mais um bocadinho, para absorver ainda mais esta zona tão diferente do nosso país, da Europa. 12 horas nos separam desde que levantamos o rabito de uma das casas até pousarmos o rabito de vez na outra casa para lá do sol posto.

Tive "piscadelas de lembranças" do que já me aconteceu aqui e voltei a confirmar que simplesmente não trocava o que se está a passar aqui por nada deste mundo. Foram:

- O dia em que pintei a mão com henna e andei uma hora com ela agarrada ao peito para não esborratar tudo;
- O dia em que nadei no meio dos peixinhos, na minha praia favorita, entre o Burj Al Arab e o Atlantis;
- A noite em que em fiquei à beira do Creek, a ver os barcos a subirem e a descerem ao longo do braço de mar que atravessa a zona velha do Dubai, onde tudo começou;
- O pôr de sol mais rápido da minha longa experiência geográfica (vi vários para tirar teimas e aqui os pôr de sóis demoram 20 minutos máximo - questões de latitude);
- O dia em que numa praia de Omã, comemos arroz picante com frango à mão, que nos tinha sido oferecido por uma familia local numa outra praia;
- O iraniano, dono da loja de especiarias, que me agarrou na mão com doçura, deu-me cerejas secas para trincar e olhou-me dentro dos olhos com um sorriso tão grande, fazendo um desconto no final das compras e repetindo: "Figo! Figo! "fazendo o jeito de quem chutava uma bola, quando soube que eramos portugueses;
- A compra do meu fato de gala indiano a uns afegãos que sorriam sem parar e não falavam outra coisa tirando Yes, yes e pouco mais;
- A simpatia de toda a gente que trabalha no nosso hotel e que tem sempre um comentário simpático quando entramos ou saímos;
E claro as eternas buzinadelas do trânsito caótico ou o esvoaçar de panos brancos ou pretos no meio das ruas, quando o vento está de feição.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

CURTAS DO DUBAI



Sabem porque é que os homens árabes gostam de ir à praia e as mulheres não?
Porque eles ainda olham para as estrangeiras que estão de biquini, enquanto que elas tomam banho vestidas e ficam entretidas a enxugar a roupa e a torcê-la.

Sabem porque é que os árabes nunca fazem nada a horas?
Porque o primo deles entretanto telefonou a dizer para o irem buscar ao aeroporto e ele esquece-se do resto. A familia é mais importante que tudo.

Sabem que acabaram de abrir o maior centro comercial do mundo com 1600 lojas e que tem um oceanário lá dentro e um ringue de patinagem no gelo? E o outro centro comercial que tem um bar feito de gelo e que temos de pôr um fato especial para beber um copo? E o outro que fica no 56º andar, quase nas nuvens, mas a maior está dentro do bar, por causa do tabaco.

Sabem que ontem foi o MAIOR fogo de artificio de sempre, 4 vezes maior que o de Beijing, podia ver-se do espaço (segundo alguns) e na inauguração de um hotel na palmeira Jumeirah (uma das 3 que existem no Dubai e que estão construidas no meio do mar), os bilhetes custavam 1500€ e eu estava na praia a ver um espectáculo com 5 km de comprimento ao lado do Burj Al Arab, que é aquele hotel de 7 estrelas em que cada noite/quarto custa cerca de 5000€?

Pois é, não obstante a crise, o que se passa aqui parece surreal porque no Médio-Oriente, parece que "no pasa nada", mas no que toca à "minha galinha é maior que a tua", gastam dinheiro de uma forma escandalosa. Dizia-se que o investimento na festa do hotel Atlantis (o tal que eu vi ontem o fogo de artificio) se gastou mais de 70 milhões de dólares e que em sinal de protesto, alguns dos sheiks locais convidados não iriam comparecer à festa.

Para vos dar uma ideia dos sitios bons aqui na terra, vou tentar começar a enviar umas fotos. A primeira que abre esta crónica sou eu e o Raul a acabar de almoçar num restaurante perto da marina do Dubai. Estava um dia com vento o que para aqui é bom, dado o calor que se faz sentir e também pode ser mau, porque pode ser prenuncio de tempestade de areia, que pode acontecer por aqui em qualquer altura no Inverno.

domingo, 16 de novembro de 2008

HOMENS NOS EMIRATOS

Já lá vai quase uma semana e eu não contei mais nada, mas finalmente tenho hoje mais um bocadinho de tempo para relatar novas aventuras.

Antes de mais, tenho de explicar que, devido a circunstâncias profissionais, deixei de viver esta aventura no Dubai sózinha, porque o meu novo director, o Raul, juntou-se à região e tornou-se também o responsável pela Arábia Saudita, país que como podem imaginar lhe deixo de boa vontade, porque tão cedo, e sem conhecer exactamente como funcionam os árabes mais temidos na região, não ponho lá os pés! Nem toda tapadinha com os olhinhos de fora! Também por outras razões profissionais que não são para aqui chamadas, deixei de ser só responsável pelo Dubai, e passei a ser "UAE Country Manager" o que quer dizer, responsável não por um só emirato (o do Dubai), mas pelos sete emiratos todos (Abu Dhabi, Ajman, Dubai, Fujairah, Ras Al Khaimah, Sharjah e Umm al Quwain). Também poderei ter de me deslocar ao Qatar e a Omã, mas esses são países vizinhos dos Emiratos Árabes Unidos e mesmo ao lado. Portanto, amiguinhas e amiguinhos, não se impressionem porque não vim de férias, mas vou trabalhar que nem uma mourinha loura....

O facto do Raul estar no Dubai e estarmos instalados juntos num aparthotel (cada um com direito à sua suite) permite trabalharmos e passarmos a maior parte do tempo juntos, mas tendo os dois bom feitio e grandes ganas de vingar, já nos tratam nos escritórios em Lisboa, pela Dream Team, visto termos uma visão profissional parecida. O lado excelente é podermos ir de um lado para o outro e não haver implicações no sentido de timings a cumprir, porque eu sei do trabalho dele e ele do meu, e assim a gestão de clientes é mais fácil. Sobretudo, porque sendo uma equipe mista, nas reuniões, nunca sabemos se o cliente vai preferir uma mulher loura ou um homem latino. Eu explico. Tanto podem dar-me muita atenção, como ignorarem-me completamente. E aí , eu não podia fazer negócio, porque há árabes que literalmente não olham sequer para as mulheres, porque a religião não lhes permite. Ao príncipio, era um tanto estranho, mas agora, estando os dois presentes, assim que um dos dois descobre qual interlocutor o cliente prefere, o outro fica a olhar para a decoração da sala de reuniões e acabamos a reunião sempre em beleza. O Raul tem um óptimo poder de persuasão e os árabes (sobretudo os mais conservadores) ADORAM ouvi-lo falar.

Como o Raul guia, e agora temos carro alugado, já começámos a deixar de esperar por um táxi debaixo de um calor sufocante e durante cerca de 30 minutos. Começámos a sair do raio da acção do bairro (onde tinhamos corrido tudo a pé), para nos lançarmos pelos 4 cantos do Dubai. Conhecemos as saídas todas para as praias, centros comerciais e vielas dignas de fugir do maior trânsito de cidade e até já nos aventurámos fora do Dubai. Os árabes conduzem que nem uns doidos, e o Raul guia bem. É de morrer a rir, imaginar dentro de grandes bombas (nunca vi carros de marcas e géneros tão luxuosos e caros) com vidros fumados, estão "homens de branco" (esta fui eu que inventei a pensar se era melhor ou pior que a expressão pinguins, porque eles andam sempre em bando e sempre de branco, lenço na cabeça e o chinelinho no pé) a acelerar tipo jogo de Play Station do Gui.

Os árabes do Dubai são muito novos, ainda com as hormonas aos pulos e não se distinguem muito uns dos outros, por causa da Dishdashah, tunica que lhes chega do pescoço aos pés, passando pelos braços. A Dishdashah é de um tecido muito leve que não se amachuca (algodão no Verão e lã no Inverno) e que cai a direito. A cabeça fica coberta com um barretinho branco e depois por cima um lenço branco (Gutrah) ou o lenço branco e vermelho (Shumagg)dos árabes coroado por um bordão preto (Ogal) que dá duas voltas. Por baixo da tunica, entrevê-se umas calças da mesma côr e tecido, e nos pés invariávelmente, estão sempre un chinelos muito confortáveis que os locais descalçam em qualquer lado. Quando eu digo em qualquer lado, é mesmo qualquer lado, porque tanto pode ser num café, como no local de trabalho ou em plena reunião de trabalho. Mas penso que a razão fundamental é o facto de estar sempre calor e eles precisarem também de se lavarem antes de rezarem 5 vezes por dia. Quando são chamados à prece, é vê-los a correrem para as mesquitas ou lugares próprios (até existem na praia e dentro de centros comerciais), descalçarem-se para lavar pés, pernas, mãos e braços até aos cotovelos, cara e nuca para depois irem rezar.

Á medida que vão prosperando na vida, e talvez devido à alimentação que é pesada e cheia de gordura, vão ganhando barriga e tornam-se na maioria gordos. Salvo algumas excepções no olhar que é muito incisivo (nunca desviam o olhar quando falam, obrigando as mulheres a baixá-lo para não parecerem mulheres com outra conotação), os locais não têm muita graça, mas são profundamente vaidosos e muitas vezes os apanhei a retocar o lencinho no reflexo dos espelhos nos centros comerciais.

Não se distinguem os árabes do Dubai, com os do Irão, da Arábia Saudita, do Qatar ou do Libano, porque a forma de vestir é rigorosamente a mesma. Como vêem, não há muito por dizer sobre este lado fisico. A forma de estar ou viver fica para quando eu conhecer melhor os locais.

Em contrapartida, os expatriados são imensos e muito variados. No Dubai, há para todos os gostos. Americanos, australianos, neo-zelandeses, ingleses, italianos, franceses, espanhois, russos, escandinavos, alemães, todo o tipo de asiáticos.... parece um catálogo de homens. E aí é só escolher. A roupa de facto tem muito impacto visual e identifica logo um estado de espirito. Dá jeito para a nossa maneira de estar ocidental. Escusamos de perder tempo com pessoas que podem não ter nada em comum conosco. E os árabes assim parecem ALTAMENTE suspeitos.

Pois é, nada como estarmos com o produto nacional. O Raul representa bem o estilo português. Descontraído e com alguma ironia. Que alívio!!!

Vou acabar por aqui.... a crónica já vai grande.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

MUSICA DOS VELHOS TEMPOS, RUAS E PRÉDIOS

Deram-me indicação de uma rádio por net absolutamente extraordinária e que percorre a minha vida sempre que estou agarrada ao computer. Dá pelo nome de Live365 - online radio station e passa imensos géneros de musica, podendo ser escolhida consoante o nosso estado de alma. Quando me quero concentrar ouço Whispering, musica tocada só com piano e que abrange desde o clássico a toda a gama de musica moderna. Se estou com vontade de musica fácil, claro que opto pela Easy Listening, mas a minha preferida é a que dá pelo sugestivo nome de Dancing Queen Radio e que me faz voltar atrás 25 anos!!!!!! UAU!!! Melhor que creme para a pele, porque passa TODAS e digo bem, TODAS as musicas que eu dançei até cair, nas noites longas das minhas saídas em Lisboa. Ai que bom que é ouvir Pet Shop Boys à mistura com New Order, Gloria Gaynor, Dionne Warwick ou Donna Summer.......ADORO!!!! Impressionante o que conseguiram reunir para pôr as Dancing Queens de todo o mundo a mexer as ancas, rebolar o peito ou esticar os braços para o céu num hino à alegria, tantos anos depois de terem sido sucessos de Verão.

Penso nisto quando vou ao meu cabeleireiro no Dubai e que parece saido de uma comédia kitsch porque tem manicuras filipinas, cabeleireiras marroquinas e clientes iranianas. O pior como podem imaginar é quando entra esta portuguesa descabelada, que agarrada a uma escova canta um dueto de ABBA com quem a quiser acompanhar, sob o olhar carregado de censura da patroa, que não se atreve a contrariar esta cliente. A menina que trata de mim (e que se chama Elsie do alto dos seus quarenta anos asiáticos) prefere os Carpenters, mas também sabe metade dos refrões das canções da altura e acabamos sempre a rir e ela a puxar-me o cabelo com a escova já regressada à sua verdadeira função de pentear.

Um destes dias ao cruzar um negro que vinha a sair de uma obra e que trauteava uma canção que também me estava no ouvido, acabámos os dois a sorrir e a repetir duas vezes o mesmo refrão: "don't worry...be happy". É tão engraçado imaginar que de repente cruzamos uma pessoa do outro lado do mundo e no meio do nada, temos esta cumplicidade musical. Isto tanto funciona com musica pop como com musica clássica.

Esta tarde, quando apresentava numa primeira reunião um dos filmes que fazemos para promoção imobiliária e trauteei sem consciência a musica que o acompanhava, recebi o seguinte comentário do cliente: "Deve gostar muito do que faz. Quem canta a trabalhar, demonstra paixão, empenho e à-vontade no produto". Dito por um paquistanês director de desenvolvimento de um projecto do tamanho de uma cidade inteira (tipo Almada), só lhe pude responder que em Portugal, existe um provérbio antigo que diz que quem canta, seu mal espanta. Foi uma forma diferente de quebrar o gelo numa situação de trabalho que estava um tanto tensa e que acabou a rolar de descontracção.

Nos taxis do Dubai, também passam musica do século passado em algumas estações. É divertido sermos nós a espetar o pescoçinho para a frente e deparar com um motorista a cantar baixinho enquanto guia no meio da grande confusão de trânsito do Dubai, em que os semáforos demoram quase 5 minutos a mudar de côr. Deve ser porque há poucos sinais de trânsito. Ainda não acabaram as obras todas e até lá, não há nada a fazer porque todos os dias e noites, o sentido das estradas pode ser alterado. Uma pessoa acorda e de repente, quando sai para a rua de carro ou a pé, tem um, dois ou três desvios, porque de noite, houve uns malandros que em nome das obras em que estavam empenhados, precisam daquele bocadinho de estrada ou de passeio e lá vamos nós todos em gincana. Um verdadeiro delirio!!! Ninguém se pode queixar de rotina nesta latitude.

E os prédios? É muito importante saber o nome dos mais emblemáticos (que são todos porque o Dubai tem os prédios mais incriveis do mundo) e isto porque como não há ruas, nem numeros de porta, não há entrega de correio. Logo não existe a profissão de carteiro no Dubai! Só estafetas que entregam a correspondência directamente numa caixa postal ou numa recepção de prédio. É muito lógico, porque as obras ainda não terminaram e quando terminarem logo se vê se vão existir carteiros ou se já não vale a pena, porque já todos os locais se habituaram a viver sem carteiros.

Imaginem o engraçado que é descobrir onde estão instaladas as empresas. Falamos com o cliente, ele envia-nos um mapa de localização da zona, com indicação do prédio à esquerda e à direita e o andar. Para bom entendedor, meia palavra basta. Ás vezes, nem isso!!! Dizem só qualquer coisa como: "Está a ver onde fica a torre ao lado do Hotel Shangri-La? A nossa empresa fica do outro lado da avenida, entre o Kentucky Fried Chicken e o restaurante libanês. É muito fácil. Nós estamos no 25º andar."

Quem disse que eu não me ia divertir no Dubai?

sábado, 8 de novembro de 2008

TERCEIRO JET-LAG

Não sei quanto tempo voou desde que saí do Dubai, estive em Portugal e regressei outra vez. Esta confusão horária é capaz de começar a seguir-me por mais voltas de avião e de rotação da terra que eu dê. A diferença horária trouxe-me algumas surpresas biológicas que não estava à espera, mas acho que vou calmamente esperar que o corpo abrande porque não existe outra maneira de o pôr no sítio.

Com a mudança de hora em Portugal, a diferença agora é de 4 horas. De manhã, ao acordar no Dubai parece estranho, porque se olharmos para qualquer relógio, são 3 da manhã em Lisboa, mas à noite, dá-me uma espertina que nem sei o que fazer. Já mudei horas de refeições, fiz foto-sintese deixando-me ficar a apanhar sol para regular o horário, mas nada. Acabei de me juntar aos milhares de expatriados que de vez em quando têm um ar zombie, quando menos se espera. Tipo beber café com ar de quem precisam de uma almofada ou ter um ar desgrenhado a meio do dia, sem razão de ser, mas por puro esquecimento de se terem penteado.

Se calhar este jet-lag, tem influência do clima e resulta na própria vivência local. Eu explico.
O calor aqui é grande e humido. Quero eu dizer com isto que o Verão, de Abril a Setembro, tem 48º de média e o Inverno, no resto do ano, só desce para 25º a 35º com vento quente à mistura.
As pessoas andam com ritmo de deserto: devagar. E o fuso horário, que não ajuda nada, ainda nos torna mais molenguitas. Se não reagimos, ficamos árabes. Quero eu dizer com isto, lentos.
O stress aqui não é recorrente porque assim como vem, vai-se embora. Acho que sem se enerva mais (e particularmente no trânsito) são só mesmo os árabes, que fazem despiques de buzina com os indianos, paquistaneses e outros da mesma região que são eximios condutores de taxi, guiando pela cidade inteira, com a mãozinha sempre a fugir para o sonoro.

A unica vez que questionei porque fazem os indianos aquele chinfrim tão irritante, tive a resposta mais incrivel da minha vida: "É para os outros condutores saberem que eu vou aqui".

E com isto, acabo aqui hoje a minha crónica.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

AFECTIVIDADE

Pois é, esta primeira longa missão tem sido particularmente feliz e já estou completamente ambientada porque definitivamente ainda existem no mundo, pequenos oásis de bem-estar, paz e boa vontade.

O Dubai tem de facto qualidade de vida, não obstante o pó das obras que é constante. Há uma imensa vontade natural de agradar e singrar. Sinto-me entre iguais. Aliás, melhor que isso. No que toca a lambidela no ego, nada melhor que uma loura ser bem galada com um profundo olhar, vezes e vezes sem conta, sem saber mais o que fazer, visto que o contraste com a gente local é ENORME. A melhor parte vem a seguir quando estes olhares são apanhados em flagrante e segue um sorriso entre o atrevido e o envergonhado, de quem nunca ousará dar um passo mais à frente. Fiquemos por aqui.

A cultura árabe não permite nenhum desvaneio com conotação explicita. Não existem demonstrações de afecto sem decoro (beijos, abraços ou outros sinais de ternura), embora se ande de mão dada. São mães com filhas, pais com filhos, amigas com amigas e versão masculina também, mas fica sempre de fora aquela outra forma mais explicita de se dizer com o corpo "amo-te", "adoro-te" ou "fica mais um bocadinho ao pé de mim".

Não sei ainda quais serão as demonstrações afectivas locais mais corporais, porque não estou com muita vontade fisica de os confrontar. O mais próximo que tive de perceber esta forma de afecção, foi durante a primeira visita, ter trabalhado numa empresa em que existiam muitos representantes dos dois sexos do grande mundo árabe e aí tive direito ao verdadeiro menu de aproximação e distância. Desde o mais tradicional homem que não olhava para mim enquanto falava, ao religioso que não me podia tocar e fugia da minha mão estendida, tive de facto parco contacto de emoção . Mas quando cheguei às mulheres, foi mais divertido, porque descobri que embora no inicio de uma relação profissional não nos tocássemos, cheguei a ter direito a vários abracinhos e beijinhos no momento da despedida. Quando neste segunda viagem as reencontrei, parecia uma festa de meninas, com toda uma alegria transbordante....será que também são assim na intimidade? Estranho mundo árabe.

Por mim, o mimo nunca faz mal a quem dá ou recebe e não tem nada a ver com conotação sexual. É puro mel de troca de boa energia e de certeza que faz bem à alma. Se calhar, ainda vou descobrir que os árabes têm uma costela portuguesa de gostar de sofrer por amor....coitaditos!

Só lhes faltará aquele ar sofredor que o meu Portugal arrasta, suspirando desde que se levanta até que se deita, maldizendo a vida por não ser fadista. Ou será que foram os portuguese s que aprenderam a ser como os árabes?

É nestas alturas que eu penso que o Dubai é um paraiso. Nem que seja pelo sorriso que as pessoas têm na cara quando cruzamos um segundo o seu olhar. Sim porque aqui, quando anda na rua, nenhuma mulher sustenta o olhar de um homem para não ser interpretada como uam mulher fácil. Uma mulher, para se fazer respeitar, só sustenta o olhar quando está a trabalhar.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

INDIANOS, PAQUISTANESES E OUTROS QUE TAIS....

Não resisto hoje a falar sobre os indianos, paquistaneses e outros parecidos ou da mesma raça que aqui deram à costa, tal como eu.

Tendo todo o direito de "land of opportunities" quanto eu, ocupam na sociedade do Dubai, algumas áreas de trabalho próprias, dando a primasia em serem condutores de táxis e camiões, empregados em pequenos supermercados ou outros serviços.

A primeira caracteristica da imensa multidão que pulula neste calor insuportável é o facto de andaram quase sempre muito devagar a fazer as coisas, como que poupados de alguma energia que é normalmente comum a outro ser humano do planeta Terra. Quero com isto dizer que descansam mais do que qualquer outro e precisam OBRIGATORIAMENTE de dormir uma sesta.
É ver os poucos relvados sobreviventes ao vapor diário e tórrido existente ser esmagado não por um indiano aqui ou ali, mas definitivamente por um rebanho deles e todos muito juntos numa tertulia de ressonar e sorrisos de regalo de quem o mundo pode bem acabar e eles nem dão por isso. It's amazing!!!!!

Passamos à segunda caracteristica que está intrissicamente ligada a uma postura fisica. Tendo a maioria dos indianos uma forma muito própria de falar inglês, quem falar um pouco mais do que 10 palavras, NUNCA poderá ser compreendido por um indiano porque literalmente ele só percebe 4 ou 5. Não queiram imaginar o delicioso que é imaginarmos que após um pequeno discuros explicativo, vamos ser conduzidos a local seguro ou servidos, e não! Eles responderam sim, mas não quer dizer que perceberam.

A parte fisica essa então é um misto entre o estranho e o surreal. Imaginem acompanhar um individuo que pronuncia sim com a boca, mas a cabeça desencaixa-se ao mesmo tempo, balançando da esquerda para a direita várias vezes, um bocadinho como os cãezinhos que antigamente se punham na parte de trás do carro e que se desencaixavam a cada sacudidela do motor de arranque. As primeiras vezes, nem reparei neste detalhe. As vezes seguintes, começei a ter ataques de riso compulsivo e agora, pura e simplesmente, fico louca e mentalizada que tenho que repetir o meu discurso todo outra vez, porque aqueles dois sinais indianos juntos são traduzidos por uma perca de tempo necessário para chegar talvez a bom porto.

Agora imaginem esta situação repetida ao longo do dia, em várias situações que nos cruzam, e a minha reacção instantânea assim que o meu cérebro detecta a informação visual de " lá vem mais um....." Hilariante.

Acabo esta crónica a confirmar que nada disto tem alguma conotação racista.

domingo, 12 de outubro de 2008

DE LÁ PARA CÁ... AFINAL É IGUAL

Já faz um tempo desde a ultima crónica e já voltei outra vez para o Dubai. Agora é que começou o baptismo de fogo, porque vou finalmente ver no seu dia-a-dia o que são os nativos. A nossa empresa esteve presente numa feira profissional e durante cerca de 4 dias que acabaram há pouco foi um corropio de gente dos 4 cantos do globo, a porem-me à prova e a tirar teimas de tanta ideia pré-feita...

OK, aqui vão as maiores duvidas devidamente desmistificadas:

1º - Embora o fato tradicional dos árabes seja branco e comprido é como a saia do escocês. Não faço a minima ideia do que existe por baixo, nem se existe.

2º - Os locais têm uma obsessão real pelas louras, mas acho que aqui a teriam naturalmente porque o produto local só deve ter algum interesse também debaixo dos panos (ver ponto 1, mas em preto no que respeita ao traje feminino).

3º- A partir deste momento, qualquer definição que sai deste deserto imenso e que tenha algum movimento é chamativo. Tanto pode ser uma conversa entre amigos como um olhar lascivo.

4º - Na grande maioria, não acho os e as locais diferentes do resto do mundo, excepto no que toca aos costumes locais e aí há muito a dizer. A religião impera com a mesma frequência que a hipocrisia e toda a gente pensa exactamente na mesma coisa que no Ocidente...sem comentários.

5º - A unica lambidela no ego poderá eventualmente ser o facto que uma rapariga da minha idade com todo o recato da mesma, ainda dá cartas sem precisar de jogar com o baralho errado, porque existe algum cavalheirismo e alguns homens dão-nos passagem ou abrem a porta, costume que quase desapareceu na Europa.

Tudo isto para concluir, que neste sentido, estou segura e por enquanto, ainda não houve assédio possivel para poder fazer alguma crónica.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

47

Pois é, quinze dias sem escrever e há já alguns dias com saudades de o fazer, mas o mundo corre, corre e estou quase a ir embora outra vez.

Hoje é um daqueles dias só meus que me enchem de boa energia, com os olhos desejosos de ver mais e o corpinho a querer viver. J'ADORE LA VIE!!!!
Adoro tudo o que a vida me tem trazido, mesmo quando parece tudo tão dificil e de repente, um sinalzinho vindo de não sei aonde que nos diz "vai em frente, garota!" e eu disparo a correr internamente sem parar, sem parar....é tão bom!

Quem me dera que o mundo fosse um pouco mais assim com vontade de chegar lá, com esforço e recompensa, mas sempre a ir em frente. É um pouco dificil explicar tudo isto, porque não sei se eu fui crescendo assim ou se cresceu dentro de mim, mas esta energia de contagiar e expandir, chega a ser tão forte que se torna dolorosa, porque justamente parece que é um planeta só meu, quando é exactamente o oposto!
É como uma tremenda fé na espécie humana.

Por exemplo, a musica. Consigo ouvir tudo, mesmo o que não gosto, e dou a volta ao assunto de maneira a não sentir o que ela não tem a ver comigo. Quero dizer que se vou pensar DEMAIS na emoção da musica pimba, não vou conseguir ultrapassar esse preconceito e só vou fazer mal a mim própria. Ora a musica pimba é como outro preconceito qualquer. Tipo, a prostituição.
Toda a minha gente a condena, mas o que é um facto é que se existe é porque há pessoas que precisam de prostitutas para uma parte das suas vidas. Quem sou eu para condenar essas pessoas ou dizer que se não houvessem putas, não havia prostituição? Hoje em dia, toda a gente opina e pouca gente se enxerga.Falar dos outros para não falar de si, é uma excelente desculpa para desviar as atenções.
Tento ser coerente e zen. Nada de condenar preconceitos, porque TODOS temos defeitos. Alguns bem feiosos.

Mas chega de falar de situações desagradáveis. Hoje quero ser mimada com abraços e beijinhos, companhia de pessoas com boas energias, copos na mão e musica no ar.
A vida explode a cada instante e é preciso agarrar dom tão precioso e tão efémero.
Deitar para trás das costas o que não nos ajuda e nem pensar mais nisso, porque só d epensar dá nausea. Devia ter feito, devia ter dito....o melhor mesmo é não lamentar porque com dizia um cómico que foi ao Muro das Lamentações em Israel "Nem no unico sitio onde eu pensava que o poderia fazer, me deixaram lamentar-me. Desisti."
Pois é, estando o mundo como está, o melhor mesmo é cantar para espantar os maus espiritos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

11 de Setembro

Já passaram 7 anos desde Nova Iorque com panico, fumo e horror e já passaram 7 dias em Lisboa com alegria, céu aberto e barriguinha cheia de coisas boas: paparoca portuguesa em jantar com amigos do coração (obrigada Luis pelo jantar e Guida pelas gargalhadas), cantiguinhas sussuradas no escuro do cinema (obrigada Constança por insistires em ir ver o Mamma Mia! É mesmo do NOSSO TEMPO!) conversas cumplices no tmn a caminho de casa no regresso do emprego, enquanto o mundo gira igual a uma roda de automóvel de carros que entompem a 2ªcircular com caras a bufar lá dentro. Não percebi se era calor ou já stress tipo "acabaram-se as férias". Muito se queixa esta gente que tem carro, que tem emprego e que tem casa para onde ir dormir com comida quente à espera no prato! Quando chegar o Inverno, vão se queixar que está muito frio. Não há cu que aguente este mal de viver....

Só me apetece cantar o "Chunginha da Belita", grande sucesso pimba quase desconhecido do grande publico, mas que associo sempre a momentos de diversão do Verão que está a acabar para Portugal, mas que para mim vai eternizar-se pelo Inverno adentro.

Estava aqui a pensar para os meus botões made in china, que já passei um ano na Suécia com 6 meses de noite cerrada e Inverno rigorosissimo e 4 meses de sol da meia-noite, com mais 2 meses de auroras boreais, a ouvir muito ABBA. Já cantava Dancing Queen desde os 16 anos, mas a canção da altura muito ousada era Gimme, Gimme a man after midnight e a outra canção Voulez-vous qu tinha interpretação quase tão lasciva quanto Je t'aime moi non plus da Jane Birkin ou Voulez-vous coucher avec moi....a lingua francesa sempre se prestou a cenas de sexo de boca. Quero eu dizer com isto que falava-se muito de "ménage à trois", "garçonnières" enquanto Grace Jones recriava em estilo dengoso "La vie en rose" da Edith Piaf.

30 anos depois, aqui estou eu a meio da noite a falar de boa musica para boa cama e a imaginar o que vai ser dormir durante um longo Verão sem grandes responsabilidades familiares (desculpa lá qualquer coisinha Miguel, mas SEI o quanto confias em mim, mesmo nos piores momentos de loucura momentânea), livre de algumas tarefas domésticas que fazem as grandes amigas ficarem verdinhas de inveja e pronta para dar o melhor.

Não se preocupem com o bronze. Lá, daquele lado, o sol não queima como aqui e o céu está sempre encoberto. Take a chance on me.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Primeiro regresso à santa terrinha

Depois do merecido descanso da guerreira, e novo mergulho profissional no escritório lisboeta, o balanço da primeira missão é positivo.
O Dubai é definitivamente um país de futuro, pela diversidade de nacionalidades e lingua comum adoptada, pela atitude de tolerância e segurança generalizada, pela estabilidade que se respira.
Se calhar, daqui a uns meses ,já estarei com outro espirito, mas por enquanto, deixo-me envolver devagarinho por tudo o que acontece e a uma velocidade de cruzeiro que iria irritar qualquer um, menos eu.
Hoje em dia quer-se tudo depressa demais e não se goza nem o antes, nem o durante, ficando sempre na boca e na alma uma sensação de "pouco" quando as pessoas estão ansiosamente a correr por nada de concreto. Giro mesmo é fazer de conta que estamos ocupados com qualquer coisa, quando afinal nem se percebe muito bem se quer realmente chegar a qualquer lado. Necessidade imensa de dar nas vistas, de ser reconhecido. Total perca de visão futura. Lá à frente, o que quer que nos esteja para acontecer, está lá. Á nossa espera.

Portugal continua tristonho e infeliz, não obstante o bom tempo. As pessoas parecem pesarosas e pouco dadas a anedotas...crise.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O PAÍS

Hoje com um bocadinho de tempo, vou tentar fazer um resumo do que ainda me falta dizer sobre este emirato. O Dubai faz parte de um conjunto de 7 emiratos, cada um deles regido por um sheik que por sua vez, visto a proximidade geográfica, faz parte de uma grande familia dominante. A hierarquia e poder são absolutos, no sentido em que existem estes laços, não impedindo uma visão estratégica para a zona em si, com evolução rápida, mas em que cada pais tem os seus recursos próprios. Independentemente da tradição árabe, sente-se muita influência inglesa, que foi marcante até à constituição dos emiratos, noas anos 70.
Há fotografias do sheik em todo o Dubai e bastante informação sobre o seu trabalho nos media e quer se leia um jornal local em inglês ou em árabe. A televisão local e por cabo tem cerca de 40 canais, em que existem programas em árabe e nas nacionalidades mais presentes no país: inglesa e indiana. Uma grande parte da população local emigrante percebe uma ou as duas linguas mais usadas. Das novelas de 3 horas produzidas em Bollywood até provas dos Jogos Olimpicos a decorrer, passando pela campanha para as presidenciais, nunca nos sentimos longe de casa.

Os supermercados de bairro são limpos e correctos, mas devido ao calor e poeira constante das obras, não há mercearias, padarias ou pequeno comércio local. Os centros comerciais são enormes e decalcados dos ocidentais, sem chegarem ao mau gosto americano e com gama de produtos e marcas que toda a gente conhece: Mango, Massimo Dutti, Pizza Hut.... e claro tudo o que é luxo: Cartier, Vuitton, Sony, etc.

Os carros na sua maioria são enormes, modernos e robustos, porque aqui vive-se muito dentro do carro pela distância. Encher um depósito custa 10 Euros e um automóvel é muito barato comparativamente com a Europa.

As casas é que não são casas. Dubai é uma cidade com vários bairros de arranha-céus, qual dele o mais ousado e alto. Acho que já disse que o trânsito muda todos os dias porque estão sempre a construir. No ar, ouvem-se martelos e no chão, descarrega-se material de construção. Grupos de operários devidamente equipados trabalham sempre e sempre:chineses, paquistaneses nas obras. Nos serviços, há sobretudo filipinas que servem refeições, cafés, registam compras nas caixas de supermercado e arrumam prateleiras.

Não sei onde andam os ocidentais. Só os vejo à noite nos cafés e nos restaurantes ou numa loja de conveniência. Nos centros comerciais e recepções de hoteis de cadeias internacionais, reunem-se nacionalidades e discutem-se negócios.

Há constantemente uma sensação de futuro, de andar para a frente. Mas a linguagem corporal é muito contida. Nada de grandes efusões emocionais, abraços ou beijinhos. Existe uma distância corporal, só podendo os de fora avançar a mão para cumprimentar se o dubaii a estender. Tudo o resto pode ser considerado ofensivo. As mulheres não devem suster o olhar quando um homem as fixa, mas em ambiente de trabalho, se não o fizer, pode ser tomada como subserviente. Não podemos como mulheres usar decotes, sais curtas, calções ou roupa insinuando curvas ou formas do corpo. Há mulheres que trabalham vestidas à ocidental, outras com a cabeça tapada, outras totalmente tapadas e outras ainda mais tapadas, todas de preto, só com olhos de fora.

Enfim, um mundo....

Volto logo à noite a Portugal.

domingo, 24 de agosto de 2008

Outros mundos.....

Já percebi porque não há cães no Dubai. Podiam fazer cócó e chichi em todo o lado e se as pessoas quisessem rezar, não sabiam onde se iam colocar porque o chão estava impuro.

Já percebi porque a lingua oficial do Dubai é o inglês. Tanta nacionalidade junta, num país de oportunidades para todos só podia ter uma lingua comum para não haver ninguém a dizer que não gostava e não queria ficar e que era um infeliz e um refugiado, etc.

Já percebi porque é que as pessoas gostam de viver aqui mesmo sendo estrangeiras. Só vem quem suporta o calor, quem sabe que a vida é cara, quem percebe que afinal se pode viver num país diferente e com um estilo de vida bastante bom. E para isso, é preciso trabalhar muito, respeitar os sheiks que reinam por estas terras, mas tem-se segurança, é-se tolerante com outros, porque aqui somos todos outros e acabamos por nos sentir em paz connosco. Olha-se à volta e somos todos outros: chineses, alemães, ingleses, pakistaneses, franceses, holandeses, egipcios, libaneses, canadianos, americanos, portugueses, filipinos ou espanhois....não vale a pena! Somos todos outros, que não do Dubai.

Será isto outro mundo? Outro planeta? Tanta mistura e tanta entreajuda. Tanta cor de pele e tanto sorriso. Vejo o rosto asiático e ele vê o meu de ocidental enquanto todos sorrimos para um africano. Até parece que estou no meio de uma cantiguinha de crianças com todos de mãos dadas. Se eu contasse isto a alguém no meu cantinho à beira-mar plantado , ou haveria bocejos ou alguém nem iria acreditar. Também é para o lado em que eu durmo melhor.

Não tenho que justificar esta imensa vontade de fazer parte deste carrocel com uma dimensão de casas que se erguem até ao céu em uma unica estrada de cinco faixas de rodagem, que terminam na areia e que me poem tonta cada vez que olho para o céu. E quando perguntamos aos unicos verdadeiros nativos que são uma minoria, a resposta intriga: "Não acha engraçado? As pessoas falam sobre a nossa forma de estar no mundo, mas no fundo além de nós sermos felizes, há cada vez mais gente a querer vir viver para cá. Não me diga que é do calor. Eu acho que é mesmo porque se sentem bem aqui." E depois sorriem.....

É incrivel ter esta visão das coisas. Quem quer andar tapado, anda. Quem quer andar destapado, anda. Mas ninguem vai tentar ser desrespeituoso perante um paraiso destes! A vida cresce muito depressa por aqui. Todos os dias os acessos à cidade sofrem alterações e tudo segue em frente, sem sofreguidão. Só um bocadinho de pressa. Mas sem stress.

Vou ficar a ver mais um bocadinho para ver se se confirma esta versão ou se há outra.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

VIDA REAL

Esta crónica vais er um bocadinho confusa porque aqui são 3h da manhã e estou muito cansada, mas sei que tenho já muita coisa para contar que me aconteceu.
Para não dar cabo da minha luta contra o fuso horário que faz alguma confusão, seguem tópicos sobre o que já vi:

Loja Zara num centro comercial com mulheres todas tapadinhas com malas de marca Prada, Vuitton e Channel a provar roupa sempre tapadinhas;

Paragens de autocarro com ar condicionado e indicações para não comer ou beber;

Zonas dentro dos escritórios especificas para homens e mulheres poderem rezar separados;

Não vi nem cães nem gatos (deve ser do calor);

Calor tão forte que te constipas dentro de casa com o gelo do ar condicionado;

Um rio que atravessa o Dubai com barcos de madeira tradicionais, num meio de um souk e onde bebes um excelente chá marroquino enquanto indianos fazem picnic no chão e o minarete chama à oração;

Factura em português é factura em árabe.

Tenho muito sono vou dormir.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

GOOD MORNING DUBAI!!!!!!

Isto de chegar a meio da noite ao Dubai, cheia de sono (levantei-me às 5h da manhã e só cheguei aqui às 23h40 locais, o que totaliza cerca de 12h de vôos com esperas em aeroportos e aviões atrasados), fez com que quando pus os pézinhos em terra nova, quase que nem senti o calor insuportável. Sobretudo, porque o avião estava cheio de gente e com o ar gelado e a primeira impressão foi agradável. Mas assim que me apercebi, veio AQUELA bafurada tipo cobertor quentinho de Inverno e aí, siiiiiiim, UAU QUE CALORAÇA!!!! mas não me dei por vencida, porque gosto de quentinho, embora este seja misturado com muita humidade e parece que se corta à faca.
Fiquei em transe enquanto percorria o caminho de autocarro entre o avião e o aeroporto: diálogos em várias linguas, mulheres cobertas de véus e caras ocidentais com cabelos louros, ruivos, grisalhos e castanhos representando tudo o que há de cosmopolita nesta parte do planeta.
Enquanto esperava pela mala, foi mais interessante: homens de branco como manda o costume, mulheres de mãos pintadas com henné, muitos homens carregadores de malas com tez indiana, paquistanesa ou do Bangladesh. Um mar de gente a mexer-se de um lado para o outro. Curioso mundo cheio de homens. As mulheres, por estarem cobertas, parecem sombras discretas, impalpáveis (em todos os sentidos), como se não estivessem ali. Em contraste com as estrangeiras, com braços e pernas ao léu, calções curtos e saias, carne e ombros roliços.... que tentação!
Percorremos a cidade até ao hotel no meio de estradas com 5 faixas e prédios em construção. Parecia uma Expo em ponto gigante, um pais a crescer a cada segundo. Desmanchei a mala num ápice e mergulhei numa caminha aconchegante.
Acordei às 8h locais (5h da manhã em Lisboa), fresca que nem uma alface. Abri as cortinas do 6ºandar e aí vi com novos olhos até onde a vista alcança. A parte baixa da cidade está coberta de um nevoeiro feito de humidade e talvez poluição que dá um ar de suspense à cidade. Como estou na minha bolha-quarto, ainda nem sei qual a temperatura exterior, mas deve ser alta.
Vou trabalhar um pouco e tomar o pequeno-almoço

domingo, 17 de agosto de 2008

LEAVING ON A JET PLANE

Pois é. De repente, já estou quase de partida. A semana passou tão depressa que hoje vou começar a preparar a mala. Levanto vôo 3ªfeira dia 19 em direcção ao Dubai. Cada vez que tive um episódio destes na minha vida, só me lembro da cançãozinha do John Denver que foi repescada para o filme Armagedon "cause I'm leaving on a jet plane, don't know when I'll be back again" e fico com arrepios na espinha e frio na barriga.


ADOOOOOORO VIAJAR. Adoro levantar vôo ver o país pequenino cá em baixo, fazer um adeusinho curto e recostar-me para trás a pensar já em novas aventuras... Confesso que, por inumeras razões, estou entusiasmadissima e aliviada por partir. Pensei que nunca mais chegava o primeiro vôo.


Na sexta-feira, andei quase duas horas à procura de uma imagem que reflectisse o meu estado de alma, e que pudesse pôr no desktop do meu portátil. Acabei por optar por uma foto do mundo à noite a dormir, com as luzes a brilhar indicando presença humana. Era a imagem contrária à que estamos habituados a focar. O nosso mundo visto do céu e de noite parece sereno. Sentimento estranho.... esse de sereno.


Ontem, com o eclipse parcial da lua, que me dirão não é nada de especial, fiquei a imaginar povos antigos a olhar antes de mim para o mesmo céu, num outro eclipse lunar e com outros receios outros fascinios. Que sentiriam os Maias, os Mongóis, os Maoris? E isto só pensando em tribos começadas pela letra M!!!


Indo começar a contagem decrescente para a missão espacial "Blondie in Middle East", agradeço desde já todo o apoio incondicional dos meus amigos e familia, ao longo da preparação psicológica necessária e espero em breve voltar a entrar em contacto galacticamente. Vou preparar-me para a viagem ao futuro. Bjs para todos e em nome da Terra, fiquem bem e em paz.

domingo, 10 de agosto de 2008

Preparação profissional

Estranha esta capacidade humana de se conseguir adaptar num ápice a novas situações. Não sei se instinto de sobrevivência ou curiosidade por ir mais além, nem que seja só explorando o dentro de nós, da nossa cabeça... deixar um conhecimento sólido, palpável, constante e começar de novo a aprender. Tipo renascimento ou abrir portas a outros mundos, outras formas de estar.



Neste caso concreto, deixar o turismo para trás cheio de letras, numeros, horários, entradas, saídas, descolagens, quartos de hoteis, passeios, excursões, civilizações, geografias, culturas, negócios, preguiças, familias, solidões e afins e mergulhar em imagens, sons, sombras, palavras, emoções outras.



Impressionantes mundos profissionais lado em lado cada um na sua caixinha de instrumentos próprios, criando continuamente uma nova obra efémera mas tão cheia de cunho, de vida tão própria, que se diria pulsante.



Sinto que estou numa empresa de paixão: gente nova, de cabeça e ferramentas, ambiente zen mas com muita tensão de responsabilidade, ideias e pessoas fervilhando de acção... era uma das coisas que estava a precisar. A primeira semana de trabalho teletransportou-me para este outro mundo de produção de filmes em 3D com técnicas dignas de ficção cientifica em terras lusas para exportação para o Médio-Oriente.



Preparo-me lentamente para a primeira descolagem que ainda não tem data marcada mas que não me enerva. Não receio nem antevejo. Deixo-me ir ... dou-me tempo para me ambientar.



No novo ambiente, não há hierarquização, só equipa de trabalho. Longos momentos de concentração entrecortados por gargalhadas, troca de olhares ou espreguiçar corporal. A arte faz-se de paciência e dedicação. Quando estiver lá, a distância nunca será grande, repetem-me todos. Estarão sempre comigo. Sensação de missão espacial.



Tive também mais alguma informação prática sobre o Dubai. Conheci em Lisboa dois dos meus futuros clientes locais e as primeiras impressões lançaram semente. Homens muito novos, activos , curiosos, com inglês qb e modernos no trato. Passámos 3 dias juntos a trabalhar e correu muito bem. Aproveitei para confirmar que o ramadão começa a 1 de Setembro, situação que eventualmente me obrigará a partir mais cedo que previsto, porque entre a habituação ao clima e o respeito imposto pelas regras de jejum rigoroso de 4 luas seria aconselhável não sofrer tudo de uma vez só. O facto de estar ainda muito calor neste momento (cerca de 48º e 80% de humidade) aliado a férias e preparação do ramadão precipitam algumas datas, mas por mim, já tenho a farda vestida. Além disso, não parto só. Acompanha-me a Marisa, minha comandante de missão que já vive no Dubai há quase um ano e me vai colocar no tabuleiro correcto de xadrez.



A crónica vai longa .Vou aproveitar para fazer uma chek-list do que ainda me falta tratar antes de partir.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

1º dia do resto da minha vida

Já lá vai quase um mês desde a primeira crónica, mas entre fechar uma porta profissional e abrir outra, time fly... Para quebrar a rotina e com alguns dias de férias a gozar, aterrei na costa alentejana com a cumplicidade do Luis e uma necessidade de fazer um certo vazio de cabeça, que bem mereço pois esta minha travessia dos desertos (são vários) tem sido extenuante. Perdi o meu norte há quase dois anos e sinto que ou dou uns passos de olhos fechados ou qualquer coisa vai estalar dentro de mim. Ainda não percebi se é cansaço ou fastio, mas seja o que fôr, TENHO de mudar. Hoje, no primeiro dia de nova "escola profissional", informaram-me que vou aterrar no Dubai e não no Bahrein, situação que não me preocupa sobremaneira pelo facto de querer sobretudo partir. Só levantarei vôo no fim de Setembro, talvez passe ainda cá os meus anos. Estranha esta sensação de leveza perante as situações....quase não me reconheço! Não me digam que vou começar a desemocionar-me de algumas futilidades e só me preocupar com o essencial. Quem quer que me leia aí desse lado, e souber o que se passa, favor fazer-me um sinal a dizer que estou finalmente a voltar a ser quem fui: positiva, destemida, doida varrida!!! Sempre foram as minhas melhores qualidades. Se eu fosse um produto publicitário, queria estes adjectivos na venda do mesmo.
Sinto-me com uma energia enorme e boa-disposição com já não tinha há muito. Sò podem ser boas ferramentas para o meu futuro trabalho.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Pois é....

Para aqueles amigos que ainda não sabem, ou para aqueles que já sabem mas precisam de ter provas por escrito, é verdade que vou deixar o turismo e iniciar outra etapa profissional na minha vida. Razões? Muitas, mas a principal é o sufoco que se tornou viver num país tão pequenino e tão apertado de cabeça, em termos de oportunidades.

Dada a minha idade já sensata, não creio ainda vir a ter muitos mais desafios como este e embora comece com uma experiência de um ano, poderão ser novas portas que se abrem, novos mundos que se conhecem, novos amigos que se fazem. O importante é ir, ouvir, falar, conhecer. Como dizia o meu pai, só depois de se ir é que se sabe que se voltará. O ficar parado vira reumático, depressão, ideias curtas.

Já conheço a Arqui 300 há algum tempo. Perdoem-me se parece polimento para sapato (vulgo graxa), mas o que conheço dos futuros colegas e patrões agrada-me. Empresa pequena, low-profile e muito trabalho numa área que nem domino: nem imaginava que existia a esta escala em Portugal com tantos trunfos dados em terra alheia. Principalmente na zona para onde irei viajar a partir de Setembro e que de português só tem uma passagem por altura do Vasco da Gama e uma presença de cerca de 100 anos, que ainda hoje é referência de quem lá vive.

Irei consolidar a presença comercial na zona do Médio-Oriente e de certa forma, definir se justifica abrir escritório sobre aquele sol escaldante.

Um dos comentários mais primatas que me fizeram desde esta noticia, e vou tomá-lo como um elogio para não me irritar, foi o facto de ter cuidado para não ser trocada por camelos.... essa é uma das razões pela qual estou um bocadinho farta deste torrão de terra. Quem não tem garra, tem de ir ao ortopedista ou ler um pouco mais. Eu explico, a dor de cotovelo deve ir até ao cérebro e a falta de cultura faz encolher a linha de raciocinio de alguns. Seja o que fôr, se eu respondesse na altura, haveria logo aquele frasezinha feita muito singela e lusitana: "Estava só a brincar ..." que representa muito bem toda a essência lusa.

A primeira crónica já vai longa. Perdoem-me por este baptismo de blogue que ainda agora começou , mas da vossa parte, preciso mesmo de algum diálogo porque a distância ainda serão alguns quilómetros e muitas horas de vôo.