Hit the world road

sábado, 24 de janeiro de 2009

QATAR


2 meses sem escrever nada, mas com explicações plausiveis. Um mês em Portugal com tudo o que foram festividades natalicias e afins: comer, comer, comer, familia e amigos, matar saudades e contar um pouco da vida do lado de lá/cá, retemperar forças. Muito Inverno, muito frio, muito drama, muita emoção portuguesa....enfim, o trivial do rectângulo à beira-mar plantado.

E de repente, vésperas de partida, reuniões de última hora, stress de encaixar mais qualquer coisinha na mala minúscula (porque a grande já ficou no Dubai há muito tempo) e aquela impressão na barriga que acontece a qualquer viajante antes de partir.

Desta vez, passagem de uma semana pelo Qatar, por obrigações profissionais. Rodeada de 3 homens diferentes entre si, a todos os niveis, não sou propriamente o protótipo cultural árabe. O Raul, com quem faço equipe de trabalho no Médio Oriente, o Cadu, brasileiro ENORME realizador de cinema e o Little John, assistente de produção, que eu já conhecia de outros filmes. A missão revela-se dura, mas divertida ao mesmo tempo. Fazer uma semana de filmagens num país desconhecido, onde não conhecemos ninguém, excepto o cliente.

À chegada ao Qatar, flash sobre o país: parece os Emiratos, mas aqui só se fala árabe e pouco ou nada aparece traduzido em inglês. Não há sinalética, talão de restaurante ou outro papelinho essencial para não ficarmos sem referência nenhuma que tenha sempre por baixo letras ou números nossos... estamos MESMO num país árabe.

Os qataris são amistosos, embora tenha ouvido algumas histórias de arrepiar cabelo. Adoram o seu país que é independente, são orgulhosos do seu estilo de vida que tem o total apoio da casa real local, ajudando a vida de qualquer qatari (e muito!) desde o nascimento. Por exemplo, é-lhes concedido gratuitamente terreno para construir a casa de familia, empréstimos com condições excepcionais (quase sem juro), electricidade, água e saúde tudo de graça e bolsas de estudo para sairem para fora do Qatar e sempre com emprego garantido..... é tão parecido com Portugal!!! Ah! É verdade esqueci-me de mencionar que todos os qataris recebem parte da receitas do Estado devido ao petróleo. Isto foi-nos dito por um libanês que vive no Qatar há 3 anos.

Mas a jóia da coroa do Qatar é a famosa estação de televisão Al Jazeera, que tem a sua sede em Doha. Esta estação tem uma história curiosa (obrigada Miguel) que vale a pena contar.

A Al Jazeera – “A Ilha”, em árabe – é hoje uma rede internacional. Tem 35 escritórios espalhados pelo mundo, 1 site bilíngue e 4 canais, um deles em inglês, lançado em novembro de 2006 e transmitido em 4 países: EUA, Catar, Malásia e Inglaterra. A fama no Ocidente começou depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, quando a estação divulgou vídeos de Osama bin Laden, facto que lhe rende críticas até hoje.

A Al Jazeera, transmitida 24 horas por dia, tem cerca de 70 milhões de espectadores no mundo – 50 milhões no Oriente Médio. Foi nela que, pela primeira vez, um judeu israelita falou hebraico na TV árabe. A programação inclui talk shows que discutem religião, documentários sobre as mazelas dos governos vizinhos, cenas do quotidiano de guerra. Tudo isso provoca a ira de governantes, autoridades, oposicionistas. O slogan “uma opinião, outra opinião” parece irritar todos os lados da notícia.

A TV do Emir

A história da emissora que mudou o padrão mediático do Médio Oriente envolve dinheiro do petróleo, know-how britânico e árabes com vontade de fazer algo diferente. Tudo começou na Arábia Saudita, em 1994, com um acordo entre a rede inglesa BBC e a emissora saudita Orbit Communications. A idéia era realizar uma versão árabe do conteúdo internacional da BBC, até então veiculado em inglês para o Médio Oriente. Mas o acordo foi desfeito antes do previsto. O padrão editorial da rede britânica – que não admitia censura estatal – não agradou nem um pouco aos sauditas. Eles preferiram desfazer o pacto a ter de assistir a entrevistas dos opositores de seu regime na nova emissora.

Cerca de 250 profissionais árabes treinados pela BBC, que apostaram tudo na idéia de levar notícias sem censura ao público do Médio Oriente, ficaram temporariamente desempregados com o fecho do canal. Mas o fim da parceria chegou em boa hora para o ambicioso xeque Hamad bin Khalifa Al Thani, Emir do Qatar. O projecto de fazer uma rede de TV independente – a imprensa árabe sempre foi controlada pelo governo – era a maior de suas reformas. Hamad virou o Qatar a partir de 1995, quando, por meio de um golpe, tirou o seu pai do trono e tornou-se rei. No poder, concedeu direito de voto às mulheres e aboliu a figura do ministro da Informação, que censura toda notícia que circula dentro dos países árabes.

Pois é, agora imaginem onde eu estive em gravações. Dentro dos estudios da Al Jazeera! Mas no Children Channel.... só para dizer que foi aqui que eu confirmei que, de facto, tenho tido a sorte de conhecer pessoas excepcionais ao longo desta minha aventura árabe. É a melhor parte deste trabalho. A pior é mesmo dormir pouco, comer ainda menos e ficar com um feitio de cão que ninguém me atura porque só me apetece gritar de cansaço. Aliás aprendi a primeira palavra verdadeiramente interessante em árabe. É "YALLA". Claro que não se escreve assim, mas o som é este mesmo. E para acabar esta crónica, aqui vai a tradução literal: "Despacha-te! Mexe-te! Faz qualquer coisa! Vamos embora" Como podem imaginar pelo torpor local, é uma palavra que dá imenso jeito dita várias vezes seguidas.

Ma'a salaamah (Até à próxima)