Hit the world road

quinta-feira, 17 de março de 2011

Angola e quase a acabar

A viagem desde Portugal correu bem e pareceu-me curta por ser de noite, por ser tão perto, por estar tão contente de voltar a Angola.

Cheguei. Assim que sai do avião, um calor que cola à pele, humido, mas saboroso para mim.

Ainda sem sair do aeroporto, e já me tinham tentado tirar gasosa, suborno, eu sei lá...a troco de favores, de empurrar mala, de dar indicações de caminho. Começei logo a sorrir. A mim, não. Não me enganam. Eu conheço o estilo, o género, a ousadia. Sorri.

E assim que se põe o pé na rua, um mar de gente colorida, asfalto rebentado, transito caótico e algum lixo....África no seu pleno.

As acácias enormes rasgam o chão e estendem os ramos para o céu cheias de flores, os peões atropelam os carros, a vida pulsa a cada esquina...

Estranhamente, vêem-me à memória algumas referências visuais: a Marginal, a Igreja da Sagrada Família, um reclame de neón ainda no topo de um prédio.

Mergulho devagarinho numa parte da minha infância. Estou feliz. Espero que o tempo aqui corra devagarinho para eu poder saborear tudo.




Pois é. Quase a acabar. Por mais que os dias pareçam compridos, acorde cedo e me deite tarde, o tempo voa e cada dia me parece curto.

País grande, população maciça e eu a navegar no meio desta mistura de côr, calor, humidade e humanidade.

Sabe bem estar cá e arrumar mais um bocadinho do passado no sítio certo da minha memória, percorrer o horizonte vasto, cheirar poeira da estrada cor de tijolo batida a tempestade curta que molha e foge.

Em Luanda, a confusão do desassossego e a desarrumação de gente que se mexe, sobrevive, nascendo, vivendo e morrendo ao sabor das horas, dos dias e das noites.

Fora da capital, a paisagem a perder de vista numa vertigem de espaço tão grande, tão imenso que só apetece mergulhar e ficar mesmo por ali.

São quitandeiras, candongueiros, baleizeiros, kinguilas e kazukuteiros, mas também bessanganas, nkankeiros, xaxeiros, dredas e duchas.E mais um enorme vocabulário local que ou se entranha ou se estranha.

E é o funje, a mandioca, o kaombo, o bombó, comida boa e tão diferente.

E para acabar o porte desta gente: trato afável, educado, curioso.

E eu a guardar tudo, por dentro, devagarinho, para poder continuar a saborear mais tarde, qual criança que lambe um rebuçado e volta a embrulhar no papel para mais tarde, com mais calma e tempo, saborear melhor.